Mateus Bianchim é um ser livre. Dotado de uma capacidade de desprendimento e de busca pelos seus sonhos, acompanhei desde que o conheci, suas diversas decisões de mudanças corajosas em busca do seu sonho de aprendizado e de trabalhar com excelência no universo da Improvisação Teatral. Muitas pessoas podem falar de desejar serem livres, mas creio que tive a oportunidade real de conhecer quem de fato vai buscá-la além de todos os limites. Nessa entrevista também livre e polêmica, expõe seus pensamentos sobre a improvisação sob seu olhar bastante crítico.

1) Gostaria que vc começasse resumindo os trabalhos nos quais vc está envolvido hoje. Farei um pequeno resumo para te apresentar.

Moro em Belo Horizonte e agora faço parte de projetos da UMA Companhia, respeitada como poucas no cenário da impro Brasileiro. Acabamos de estreiar o espetáculo “Dos Gardenias Social Club” que é um long-form inspirado no Bolero, na casa de baile e nas relações possíveis nesse lugar.

Fora isso, participarei da temporada do Match de Improvisação, também da UMA e estou na direção do IMPROLIVRE, baseado na oficina que tive com Frank Totino, e que apresentamos em bares de belô.
2) O que é Improvisação Teatral? Quais são os princípios em que se embasa?

A Impro é um solo fértil e amplo. Ela se trata de teatro; e o teatro, e a arte, estão além dos limites que a tevê ou o mercado infelizmente impõe. A impro pode dar minas de ouro e ali se projetarem várias pessoas em busca do que já está pronto; uma Serra Pelada. Mas também tem outros lugares onde se pode plantar, arando e fertilizando o solo, jogando sementes e errando a época da colheita, até achar um fruto bom e duradouro pra se deliciar e se vender. Acima de tudo se deliciar e fazer deliciar.
3) Como surgiu a Improvisação na sua carreira?

Fui integrante da Imprópria Cia Teatral, éramos todos (ou quase) formados em Artes Cênicas na Universidade Federal de Ouro Preto/MG. Lá tivemos contato com a Mariana Muniz, que é a fundadora da LPI em BH, que agora é a UMA. Ela desviou nosso caminho pra sempre em direção à Impro!
4) Quem são os Improvisadores que te inspiram na realização do seu trabalho?

Minha improvisação se inspira no cotidiano. Procuro não mais me espelhar no trabalho que os outros fazem, mas também não me preocupo se isso acontecer. Acho que o Brasil tem bons improvisadores, mas que ainda estão engatinhando e descobrindo o que estão fazendo.

5) Quais companhias no mundo você acredita que hoje fazem os trabalhos mais incríveis?

Acho que os que estão há algum tempo na estrada, e que não precisaram mais se vender, nos apresentam uma maturidade que vai além da virtuose. Mas o mundo é grande.

6) O que mais tem te trazido interesse em Improvisação hoje? Jogos de Improvisação ou espetáculos mais long form?

Pra mim os jogos estão mostrando cada vez mais que se limitam a jogos mesmo, onde o privilégio é mostrar o quanto se é esperto e rápido, coisa que acho dispensável até no processo de educação infantil.
Eu busco poesia em cena, nas minhas oficinas eu procuro trabalhar isso, a sensibilidade das relações, uma obra completa e interessante de se ver com a vantagem da espontaneidade do improviso, da verdade de cada ator aberta em flor, exposta.
E quando falo de espontaneidade, falo da questão mais animalesca da coisa e não dessa “primeira idéia” que vem sido utilizada na impro brasileira.
7) Qual é o princípio da Improvisação que é hoje mais motivo de investimento e pesquisa hoje no mundo?
O mercado exige que você venda. O que mais vende são espetáculos de impro-cômica, explorando a rapidez da piada e a satisfação de desejos sádicos de uma platéia burguesa. Eu não vendo mais improvisação.

O que pesquiso e se pesquisa a fundo no vasto mundo, é a emancipação do ser-ator e do ser-público através de uma metodologia libertária que é a do Keith Johnstone. Mas essa liberdade permite que o sistema a subverta, como ele faz com movimentos sociais desde sempre (transformar o punk em moda, por exemplo), e que vem tendo a complacência de “atores” que desejam o poder da fama e do dinheiro.

8) Quais são as dificuldades executivas de um grupo no mercado da  Improvisação? Como o UMA Companhia tem conseguido se estabelecer nesse mercado? Quais são as perspectivas e projetos do seu grupo?

Nenhum grupo que fiz parte teve facilidade em ganhar dinheiro com teatro. Eu fui dirigido pelo Chico de Assis do Arena e ele me disse uma vez que ator pra ter dinheiro precisa ter um três oitão na cintura dentro de um banco. Existe um consumo, mas você tem que se submeter ao desejo do consumidor. E me submeter não é coisa que quero fazer se puder não fazer. Existem leis e editais, mas são poucos e privilegiam poucos. Eu gosto muito de usar o exemplo do Simioni, do LUME. Eu tive aulas com ele e vi uma apresentação de um espetáculo belíssimo solo dele em Ouro Preto. No final, quando perguntado se ele poderia fazer aquele espetáculo, que pesquisava uma coisa muito íntima, difícil de ser entendida, sem ele ser “o” Simioni, ele disse que com certeza não. Ou seja, a pesquisa só é viável para quem tem nome: ou quem se submeteu e cansou de se submeter (mas esse perderá seu público em pouco tempo) ou para os que não desistiram de seus sonhos e agora tem público cativo.

9) Para onde vai a Impro (o futuro)?
Cada vez mais e mais pessoas vão se interessar e fazer Impro, assistir, pesquisar. Somos muito novos no conhecimento dessa linguagem, vejo grandes nomes que estão aí há 30 anos!!! É um território muito amplo para se fazer, para se buscar, quem tem verdade e gosta do que faz durará.

Nesse final de semana, Mateus dará uma oficina de Improvisação em São Paulo. Informações seguem no cartaz abaixo.

Abaixo a participação de Mateus no Mr. Impro (Micetro), espetáculo de Improvisação formato de Keith Johnstone, promovido no Improfestin do Chile en 2009, jogando Irmãos Siameses. Com participação de David Sanin Gaviria do Acción Impro, Angélica Rogel do Complot/ Escena e Monica Moya do Colectivo Teatral Mamut. Apresentação de Mario Escobar Olea do Bassusseder/ Soloy Simple Teatro  e direção de Shawn Kinley do Loose Moose.