Flávio Lobo é polivalente. Além de professor de biologia é professor de Improvisação na Cia. do Teatro Contemporâneo e está à frente do Grupo Alcatéia de Improvisação, bicampeão carioca e atual campeão brasileiro, título esse recentemente conquistado no Campeonato Brasileiro de Improvisação que ocorreu no último fim de semana no Rio de Janeiro. Flávio também é responsável pela notícia de improvisação com o resumo desse campeonato exclusivo para esse blog.
1) Improvisando: Gostaria que vc começasse resumindo os trabalhos nos quais vc está envolvido hoje.
Atualmente ministro aulas de improvisação no curso livre e no curso profissionalizante da Cia de Teatro Contemporâneo. Também trabalho no Colégio Eduardo Guimarães como professor de ciências, biologia e improvisação teatral onde ministro aulas de improvisação para as classes especiais (O EG é uma escola inclusiva) e realizo uma pesquisa sobre como a improvisação pode auxiliar no ensino formal. 

Estou a frente do Grupo Alcateia de Improvisação, atual campeão Carioca e Brasileiro de improvisação onde trabalho como ator e treinador e é produzido por Fabiola Mozine. O Grupo está preparando dois espetáculos um de cenas curtas e outro no formato de cenas longas improvisadas. Ambos para estreiar em 2011 na cena carioca.

2) Improvisando:  O que é Improvisação Teatral? Quais são os princípios em que se embasa?
Para  mim a improvisação teatral é um ótimo treinamento para qualquer ator, e até mesmo para qualquer pessoa, pois seus fundamentos como a escuta, o cavalheirismo e a aceitação são princípios básicos para que se construa boas relações em cena e na vida. Criar cenas, assim como conviver em grupo é algo muito difícil e requer muita conexão entre seus componentes para que tudo ocorra bem.
3) Improvisando: Como surgiu a Improvisação na sua carreira?
A improvisação vai surgir na minha vida na década de 90 onde eu fazia uma peça chamada Terror na Praia. A ideia desse espetáculo surgiu quando a produtora Mariah Martinez assistiu a um show de impro na França e , mesmo sem entender nada, achou bacana uma disputa teatral onde a platéia atirava chinelinhos de borracha nos atores (na verdade era nos juízes) em uma disputa teatral.
No Terror, que tinha como base o teatro circo da década de 50, tinhamos uma peça principal com o gênero terror seguido de um ato variado com esquetes, mágicos e malabaristas. O espetáculo era quase todo improvisado a partir de um roteiro básico, pois tanto a peça, quanto o ato variado mudava a cada semana. Durante o ato variado, o ápice era uma disputa do “pior esquete”. Dois grupos de atores disputavam uma cena onde o público jogava chinelos de espuma naquelas que achavam a pior. Esta seria a escolhida da semana e encenada na íntegra na semana seguinte. O Terror foi uma grande escola embora não tivesse quase nada do Impro de verdade.
Em 2003 a atriz e diretora Gabriela Duvivier veio da Europa trazendo em sua bagagem as técnicas de Keith Johnstone. Ela ofereceu uma oficina e formou um grupo de atores. Foi meu primeiro contato real com teatroesporte e dessa oficina surgiu o “Teatro do Nada” uma das primeiras companhias cariocas de improvisação, que está na cena até hoje. Quando o “Nada” se formou eu estáva envolvido em pesquisas sobre o impro, tinha acabado de ler o “Impro for Storytellers” e muito empolgado. Assim resolvi fazer encontros, com auxílio da produtora Fabiola Mozine,  onde divulgávamos e treinávamos as técnicas, gratuitamente para quem quisesse participar. Nessa época fui convidado a fazer parte do espetáculo “Nada Contra” do “Teatro do Nada”, como Juiz Técnico e comecei a trabalhar na Cia de Teatro Contemporâneo, onde Iniciamos as primeiras versões do Campeonato Carioca de Improvisação.
Nesse meio tempo, até hoje, participei de inúmeras oficinas e workshops de improvisadores que passaram por aqui como Ana Paula Novellino (Teatro do Nada), Ricardo Behrens (LPI Argentina), Fernando Caruso (Z.E. Zenas Emprovisadas), Matheus Bianchim (Imprópria Cia Teatral), Omar Argentino (Improtour), Edson Duavy (Anônimos da Silva), Pedro Borges ( Improváveis – Portugal) e Bobbi Block (Groove and Tongue – Philadelphia)  e também ministrei oficinas no Rio, São João del Rey – MG e Villa Velha – ES.
4) Improvisando: A sua trajetória profissional é diversificada. Se bem compreendi você vem da área das ciências (biologia). Como sua formação influenciou na sua atuação. E quanto da improvisação contribuiu na sua carreira?
A improvisação no geral e o impro em particular é uma técnica onde o ator deve trabalhar com o máximo de conhecimento que possa contribuir com a cena. Adoro estudar. Sou formado em biologia, professor, ator, jogador de RPG, colecionador de quadrinhos desde adolescente e um devorador de livros e filmes, em suma, o típico “NERD”. Logo o Impro, para mim é uma evolução natural. Tento levar para os jogos de impro os detalhes adquiridos por minha vivência, assim como tento levar o Impro para a sala de aula. Acho que é uma boa troca e os resultados em ambas as áreas de atuação é extremamente satisfatório.
5) Improvisando: Quem são os Improvisadores que te inspiram na realização do seu trabalho?
São muitos. Hoje em dia eu citaria Keith Johnstone (que eu conheço apenas pela obra), Ricardo Behrens, Omar Argentino, Allan Benatti e Edson Duavy.
6) Improvisando: Quais companhias no mundo você acredita que hoje fazem os trabalhos mais incríveis?
Não saberia lhe responder sobre as melhores companhias do mundo. Pois as conheço apenas pela literatura e alguns vídeos do youtube. Porém no Brasil, daquelas que eu vi atuando, as melhores companhias que estão na cena hoje em dia na minha opinião são, independente da ordem: “Uma Companhia” (MG), “Jogando no Quintal” (SP),  e claro o “Grupo Alcateia” (RJ). No campeonato Brasileiro de improvisação me impressionaram também o jogo dos “Protótipos” e do Sustentáculos (SP) e dos “Risologistas” (PR).
7) Improvisando: O que mais tem te trazido interesse em Improvisação hoje? Jogos de Improvisação ou espetáculos mais long form?
Estou trabalhando com o Alcateia as duas vertentes.Gosto muito dos jogos de improviso. Mas acho que eles acabam limitando a improvisação pelo excesso de regras (que é bom para iniciantes). A tendência natural dos improvisadores mais experientes é buscar formatos mais longos e livre de amarras onde se prioriza a dramaturgia e o aprofundamento das relações entre os personagens.
8.) Improvisando: Quais princípios em que se embasa a Improvisação que é hoje são mais motivos de investigação e pesquisa?
A noção de ciclo de espectativas, que está relacionada diretamente com o conhecimento no assunto sobre o qual se fala durante a improvisação. A escuta e a aceitação – fundamentais para a construção de cenas em grupo e as noções teatrais de memória emotiva, memória afetiva e construção de personagem. Fundamentais para uma cena mais longa.

9) Improvisando: Para onde vai a Impro (o futuro)?

A impro é uma fonte inesgotável de pesquisa. Acredito que pode se originar inúmeros formatos de espetáculos e no futuro acho que muitas empresas utilizarão as técnicas para o treinamento de seus funcionários e professores as utilizarão para facilitar a aquisição de conhecimento por parte dos alunos. Além do mais é um formato teatral totalmente aberto e muitos grupos a utilizarão para formatar seus espetáculos. E é claro surgirão os campeonatos, encontros e festivais de improvisação, fonte permanente de troca de conhecimento entre os entendidos e os neófitos.

Na seqüência, vídeos do Alcatéia em ação, contra o Anônimos da Silva no Brasileiro do último ano e contra o Ilimitada no Campeonato Carioca de Improvisação.